quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
Se eu tivesse um barco...
“Mercado do peixe, mercado da aurora:/ cantigas, apelos, pregões e risadas/ à proa dos barcos que chegam de fora./ Cordames e redes dormindo no fundo;/ à popa estendida, as velas molhadas;/ foi noite de chuva nos mares do mundo.”
“Pureza do largo, pureza da aurora./ Há viscos de sangue no solo da feira,/ se eu tivesse um barco, partiria agora./ O longe que aspiro no vento salgado/ tem gosto de um corpo que cintila e cheira/ para mim sozinho num mar ignorado.”
Com o fim da campanha eleitoral e a eleição da nova presidente da República, com a enxurrada de palpites, previsões, análises, comentários e notícias em geral, a melhor forma de reagir contra o tsunami da ocasião foi buscar um sítio mais elevado para melhor apreciar os acontecimentos.
Ao contrário do que muitos pensam, a poesia não é recurso de covardes e alienados. Nunca, jamais em tempo algum, cometi um verso, um poema. Não quer dizer que seja corajoso e antenado com a realidade atual. Mas frequentes vezes apelo para ela quando sinto que a poesia expressa um momento que estou vivendo. O “mar ignorado” do poema de Ribeiro Couto define o universo que me foi dado navegar sem ser preciso.
Tomei conhecimento do poeta quando li, na adolescência, um livro que muito me marcou: “Presença de santa Terezinha”. Tinha ilustrações de Portinari. Apesar de um pouco esquecido, considero Ribeiro Couto, diplomata e acadêmico, um dos maiores poetas de nosso modernismo.
Publicado em 02/11/2010
redacao@gazetadopovo.com.br (Carlos Heitor Cony)
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
SANTA CECILIA
No dia 22 de Novembro, comemora-se o Dia do Músico. É também o dia da padroeira dos músicos, Santa Cecília.
Segundo a Igreja Católica, Cecília era uma jovem e bela romana. Nascida no século II, foi prometida em casamento ao jovem Valeriano. No dia das núpcias confessou ao noivo que havia consagrado sua pureza a Jesus Cristo e que um anjo guardava sua virgindade.
Valeriano, que era ateu, disse que respeitaria sua vontade, desde que ele visse o tal anjo. Cecília então pediu que ele procurasse o bispo Urbano, para que fosse batizado e purificado. Seguindo as instruções da noiva, Valeriano tornou-se cristão e teve a visão do anjo. O casal passou então a professar junto a fé cristã, tendo convertido também Tibúrcio, irmão de Valeriano.
A todos que receberam este dom divino de cantar, compor ou tocar um instrumento, os parabéns do Portoweb e os votos de que sua música contribua para a construção de um mundo cada vez melhor.
o dom do ritmo, do compasso e da afinação das notas musicais,
dai-me a graça de conseguir técnica aprimorada em meu instrumento,
a fim de que eu possa exteriorizar meus sentimentos através dos sons.
Permiti, Senhor, que os sons por mim emitidos
sejam capazes de acalmar nossos irmãos perturbados,
de curar os doentes e de animar os deprimidos;
que sejam brilhantes como as estrelas
e suaves como o veludo.
Permiti Senhor, que todo o ser que ouvir o som do meu instrumento
sinta-se bem e pressinta a Vossa Presença.
domingo, 28 de novembro de 2010
Todo mundo tem nostalgia....
A vida é assim. Seria bom se as alternativas com que nos defrontamos fossem sempre entre o certo e o errado, o bom e o mau. Seria fácil viver. Mas há situações que nos colocam diante de alternativas igualmente dolorosas e de resultado incerto.(Rubem Alves).
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Vou-me embora pra Pasárgada...
Diante da dúvida de quem eu vou votar, se é Nesse ou Naquele.
Resolvi pegar uma carona com o Poeta Manuel Bandeira e Vou-me embora prá Pasárgada, também.
Nem mesmo precisarei justifcar o voto , pois lá sou amigo do amigo do Rei.
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
(Manuel Bandeira)
sábado, 11 de setembro de 2010
O Jeito, no Momento, é ver a Banda passar...
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Parabéns a Você Vasco da Gama pelos 112 anos de glória !!!!!!
domingo, 11 de julho de 2010
ALENTO
Coração encolhido no peito é desprezo
Solidão hospedada no leito é ausência
A paixão refletida num pranto, ai, é tristeza
Um olhar espiando o vazio é lembrança
Um desejo trazido no vento é saudade
Um desvio na curva do tempo é distância
E um poeta que acaba vadio, ai, é destino
A estrada do tempo é segredo
O sonho perdido é espelho
O alento de tudo é canção
O fio do enredo é mentira
A história do mundo é brinquedo
O verso do samba é conselho
E tudo o que eu disse é ilusão
segunda-feira, 21 de junho de 2010
Santo Antonio de Lisboa, Florianópolis
sexta-feira, 28 de maio de 2010
" O TEMPO PASSOU E ME FORMEI EM SOLIDÃO"
Ninguém avisava nada, o costume era chegar de paraquedas mesmo. E os donos da casa recebiam alegres a visita. Aos poucos, os moradores iam se apresentando, um por um.
– Olha o compadre aqui, garoto! Cumprimenta a comadre.
terça-feira, 25 de maio de 2010
Creio
sexta-feira, 30 de abril de 2010
Os Bares de Ontem
terça-feira, 30 de março de 2010
Peladas - Armando Nogueira

E, no entanto, ainda ontem, isso aqui fervia de menino, de sol, de bola, de sonho: "eu jogo na linha! eu sou o Lula!; no gol, eu não jogo, tô com o joelho ralado de ontem; vou ficar aqui atrás: entrou aqui, já sabe." Uma gritaria, todo mundo se escalando, todo mundo querendo tirar o selo da bola, bendito fruto de uma suada vaquinha.
Oito de cada lado e, para não confundir, um time fica como está; o outro jogo sem camisa.
Já reparei uma coisa: bola de futebol, seja nova, seja velha, é um ser muito compreensivo que dança conforme a música: se está no Maracanã, numa decisão de título, ela rola e quiçá com um ar dramático, mantendo sempre a mesma pose adulta, esteja nos pés de Gérson ou nas mãos de um gandula.
Em compensação, num racha de menino ninguém é mais sapeca: ela corre para cá, corre para lá, quiçá no meio-fio, pára de estalo no canteiro, lambe a canela de um, deixa-se espremer entre mil canelas, depois escapa, rolando, doida, pela calçada. Parece um bichinho.
Aqui, nessa pelada inocente é que se pode sentir a pureza de uma bola. Afinal, trata-se de uma bola profissional, uma número cinco, cheia de carimbos ilustres: "Copa Rio-Oficial", "FIFA - Especial." Uma bola assim, toda de branco, coberta de condecorações por todos os gomos (gomos hexagonais!) jamais seria barrada em recepção do Itamarati.
No entanto, aí está ela, correndo para cima e para baixo, na maior farra do mundo, disputada, maltratada até, pois, de quando em quando, acertam-lhe um bico, ela sai zarolha, vendo estrelas, coitadinha.
Racha é assim mesmo: tem bico, mas tem também sem-pulo de craque como aquele do Tona, que empatou a pelada e que lava a alma de qualquer bola. Uma pintura.
Nova saída.
Entra na praça batendo palmas como quem enxota galinha no quintal. É um velho com cara de guarda-livros que, sem pedir licença, invade o universo infantil de uma pelada e vai expulsando todo mundo. Num instante, o campo está vazio, o mundo está vazio. Não deu tempo nem de desfazer as traves feitas de camisas.
O espantalho-gente pega a bola, viva, ainda, tira do bolso um canivete e dá-lhe a primeira espetada. No segundo golpe, a bola começa a sangrar.
Em cada gomo o coração de uma criança.
Armando Nogueira é um estilista, na medida em que escreve sobre futebol a partir de uma consciência artesanal que envolve suas crônicas de um grau de literaridade tal, que elas, hoje, constituem páginas realmente literárias com toda a força imagística, poética, carga épica e dramática, que costumam envolver tais criações. Tem dois livros lançados, "Bola na rede", e "A chama que não se apaga", sobre as cinco olimpíadas que cobriu como jornalista. Hoje colabora com diversos jornais, que publicam suas crônicas esportivas, e mantêm programa em um emissora de televisão.
Do livro "Os melhores da crônica brasileira", José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1977, pág. 29, extraímos o texto acima.
domingo, 14 de fevereiro de 2010
Qual a sua experiência ?
Eu já dei risada até a barriga doer, já nadei até perder o fôlego, já chorei até dormir e acordei com o rosto desfigurado, já fiz cosquinha na minha irmã só pra ela parar de chorar, já me queimei brincando com vela. Eu já fiz bola de chiclete e melequei todo o rosto, já conversei com o espelho, e até já brinquei de ser bruxo. Já quis ser astronauta, violonista, mágico, caçador e trapezista. Já me escondi atrás da cortina e esqueci os pés pra fora, já passei trote por telefone, já tomei banho de chuva e acabei me viciando. Já roubei beijo, já fiz confissões antes de dormir num quarto escuro pro meu melhor amigo. Já confundi sentimentos, já peguei atalho errado e continuo andando pelo desconhecido. Já raspei o fundo da panela de arroz carreteiro, já me cortei fazendo a barba apressado, já chorei ouvindo música no ônibus. Já tentei esquecer algumas pessoas, mas descobri que essas são as mais difíceis de se esquecer. Já subi escondido no telhado pra tentar pegar as estrelas, já subi em árvore para roubar frutas, já caí da escada de bunda. Conheci a morte de perto e agora anseio pra viver cada dia. Já fiz juras eternas, já escrevi no muro da escola, já chorei sentado no chão do banheiro, já fugi de casa pra sempre e voltei noutro instante. Já sai pra caminhar sem rumo, sem nada na cabeça ouvindo estrelas. Já sorri pra não deixar alguém chorando, já fiquei sozinho no meio de mil pessoas sentindo falta de uma só. Já vi o pôr-do-sol cor-de-rosa e alaranjado, já me joguei na piscina sem vontade voltar, já bebi uísque até sentir dormente os meus lábios, já olhei a cidade de cima e mesmo assim não encontrei o meu lugar. Já senti medo de escuro, já tremi de nervoso, já quase morri de amor, mas renasci novamente pra ver o sorriso de alguém especial. Já acordei no meio da noite e fiquei com medo de levantar, já apostei em correr descalço na rua, já gritei de felicidade, já roubei rosas num enorme jardim, já me apaixonei e achei que era pra sempre. Já deitei na grama de madrugada e vi a lua virar sol, já chorei por ver amigos partindo, mas descobri que logo chegam novos, e a vida é mesmo um ir e vir sem razão. São todas coisas feitas, momentos fotografados pelas lentes da emoção, guardado num baú chamado coração. Essa são algumas das minha experiências...
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
Era uma vez...
Mas como na vida de um boêmio nem tudo é desperdício, a pouco tempo atrás nessa divertida e atabalhoada caminhada, conheci o poeta Fabiano, para muitos ainda um desconhecido, prá mim já é realidade, ele me conta que, quando não está lendo Dostoevski, escreve, é dele essa pérola abaixo:
Era uma vez um poeta
Que não possuía beleza
E que através da sua caneta
Tentou conquistar a princesa
Furou os olhos da coitada
Não é lenda
Não é mito
Hoje ela não enxerga nada
E ele é o seu príncipe bonito
(Fabiano Jacob Barcellos)
domingo, 10 de janeiro de 2010
Vivendo e desaprendendo
Eu sabia fazer pandorga (pipa) e hoje não sei mais, duvido que se hoje pegasse uma bola de gude conseguisse equilibrá-la na dobra do dedo indicador sobre a unha do polegar, quanto mais jogá-la com a precisão que tinha quando era garoto. Outra coisa: Acabo de procurar no dicionário, pela primeira vez o significado da palavra “gude”. Quando eu era garoto nunca pensei nisso, eu sabia que gude era gude. Gude era gude.
Juntando-se duas mãos de um determinado jeito com os polegares para dentro, e assoprando pelo buraquinho, tirava-se um silvo bonito que inclusive, variava de tom conforme o posicionamento das mãos. Hoje não sei mais como é. Eu sabia a fórmula de fazer cola caseira. Algo envolvendo farinha e água e muita confusão na cozinha, de onde éramos expulsos sobre ameaças. Hoje não sei mais.
A gente começa a contar depois de ver um relâmpago e o número a que chegasse quando ouvia a trovoada, multiplicando por outro número, dava a distância exata do relâmpago. Não sei mais que número é esse.
Ainda no terreno dos sons: tinha uma folha que a gente dobrava e, se ela rachasse de um certo jeito, dava um razoável pistom em miniatura. Nunca mais encontrei a tal folha.
E espremendo-se a mão entre o braço e o corpo, claro tinha-se o chamado trombone axilar, que muito perturbava os mais velhos; não consigo mais tirar o mesmo som. É verdade que não tenho tentado com muito empenho.
Lembro o orgulho com o que consegui, pela primeira vez cuspir corretamente pelo espaço adequado entre os dentes de cima e a ponta da língua de modo que o cuspe ganhasse distância e pudesse ser mirado com prática, conseguia controlar a trajetória elíptica da cusparada com uma mínima margem de erro. Era puro instinto. Hoje o mesmo feito requeria complicados cálculos de balística e eu provável só acertaria a frente da minha camisa. Outra habilidade perdida.
Na verdade deve-se revisar aquela antiga frase, é vivendo e desaprendendo, não falo daquelas coisas que deixamos de fazer porque não temos mais condições físicas e a coragem de antigamente, como subir em bonde andando, mesmo porque não existem mais bondes. Falo da sabedoria desperdiçada das artes que nos abandonaram, algumas até úteis.
Quem nunca desejou ainda ter o cuspe certeiro de garoto para acertar em algum alvo contemporâneo, bem no olho? Eu já.
(Luis Fernando Veríssimo)
Pessoas são músicas você já percebeu?
Elas entram na vida da gente e deixam sinais.
Como a sonoridade do vento no final da tarde.
Como os ataques de guitarras e metais presentes em cada clarão da manhã.
Olhe a pessoa que está ao seu lado e você vai descobrir, olhando fundo, que há uma melodia brilhando no disco do olhar. Procure escutar.
Pessoas foram compostas para serem ouvidas, sentidas, compreendidas, interpretadas.
Para tocarem nossas vidas com a mesma força do instante em que foram criadas, para tocarem as suas próprias vidas com toda essa magia de serem músicas.
E de poderem alçar todos os vôos, de poderem voar com todas as notas, de poderem cumprir afinal, todo o sentido que a elas foi dado pelo compositor.
Pessoas são músicas como você. Está ouvindo?
Pessoas têm que fazer sucesso.
Mesmo que não estejam nas paradas.
Mesmo que não toquem no rádio.
(autor desconhecido)