sexta-feira, 29 de abril de 2011

A benção do dragão

O dragão é o guardião dos tesouros escondidos.
Os poetas não tem medo do dragão. O escritor Gustavo Roldán, que maneja lindamente a palavra e o silêncio, comunicando-se com grades e pequenos, anjos e bestas, conta que a maldição do dragão é terrível; diz o seguinte:

Que você tenha comida até ficar farto todos os dias de sua vida.
E que viva muitos anos.
Que nunca lhe faltem nem a água nem a luz.
Que os atalhos sejam suaves quando caminhe.
Que os espinhos se afastem de seu lado.
Que seus inimigos o deixem passar sem atacar.
Que nenhuma dor o fira o flanco.
Que ninguém o machuque à traição.
Que ninguém o ofenda nem sequer com um gesto.
Que tenha tudo o que possa desejar; por longos e longos anos.
Mas que lhe falte amor...

Felizmente, o dragão às vezes nos benze. É então que, abrindo suas enormes ventas ígneas, oferece-nos estes desejos exclusivos:

Que as chuvas que molhem você sejam suaves e mornas.
Que o vento chegue cheio do perfume das flores.
Que os rios sejam propícios e corram para o lado que você queira navegar.
Que as nuvens cubram o sol quando estiver sozinho no deserto.
Que os desertos se encham de árvores quando quiser atravessá-los.
Que você encontre as plantas mágicas que guardam em sua raiz a água que faz falta.
Que o frio e a neve cheguem quando você estiver em uma caverna quente.
Que nunca lhe falte o fogo.
Que nunca lhe falte a água.
Que nunca lhe falte o amor.

Como o poeta-dragão, acrescenta Gustavo Roldán:

Talvez o fogo se possa acender.
Talvez a água possa cair do céu.
Se lhe faltar amor, não há água nem fogo que sejam suficientes para continuar vivendo.

(Do livro: Contos para presentear as pessoas que amo – Mariscal, Enrique – Editora Academia de Inteligência, 2007)

segunda-feira, 21 de março de 2011

Bola de Meia Bola de Gude - 14 bis


Há um Menino!
Há um Moleque!
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança
Ele vem prá me dar a mão...
Há um passado
No meu presente
O sol bem quente
Lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa
Me assombra
O menino me dá a mão...
E me fala de coisas bonitas
Que eu acredito
Que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito
Caráter, bondade
Alegria e amor...
Pois não posso
Não devo e não quero
Viver como toda essa gente
Insiste em viver
E não posso
Aceitar sossegado
Qualquer sacanagem
Ser coisa normal...
Bola de Meia! Bola de Gude
O solidário não é solidão
Toda vez que a tristeza
Me alcança
O menino me dá a mão...
Há um Menino!
Há um Moleque!
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança
Ele vem prá me dar a mão...
E me fala de coisas bonitas
Que eu acredito
Que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito
Caráter, bondade
Alegria e amor...
Pois não posso
Não devo, não quero
Viver como toda essa gente
Insiste em viver
E não posso
Aceitar sossegado
Qualquer sacanagem
Ser coisa normal...
Bola de Meia! Bola de Gude!
O solidário não é solidão
Toda vez que a tristeza
Me alcança
O menino me dá a mão...
Há um Menino!
Há um Moleque!
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança
Ele vem prá me dar a mão...
E me fala de coisas bonitas
Que eu acredito
Que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito
Caráter, bondade
Alegria e amor...
Pois não posso
Não devo, não quero
Viver como toda essa gente
Insiste em viver
E não posso
Aceitar sossegado
Qualquer sacanagem
Ser coisa normal...
Bola de Meia! Bola de Gude!
O solidário não é solidão
Toda vez que a tristeza
Me alcança
O menino me dá a mão...
Há um Menino!
Há um Moleque!
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança
Ele vem prá me dar a mão...

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O Segredo do Tesouro de Bresa

O Segredo do Tesouro de Bresa Há uma história muito interessante, chamada "O Tesouro de Bresa", onde uma pessoa pobre compra um livro com o segredo de um tesouro. Para descobrir o segredo, a pessoa tem que decifrar todos os idiomas escritos no livro.

Ao estudar e aprender estes idiomas começam a surgir oportunidades na vida do sujeito, e ele lentamente (de forma segura) começa a prosperar. Depois ele precisa decifrar os cálculos matemáticos do livro. É obrigado a continuar estudando e se desenvolvendo, e a sua prosperidade aumenta. No final da história, não existe tesouro algum - na busca do segredo, a pessoa se desenvolveu tanto que ela mesma passa a ser o tesouro.

O profissional que quiser ter sucesso e prosperidade precisa aprender a trabalhar a si mesmo com muita disciplina e persistência. Vejo com frequência as pessoas dando um duro danado no trabalho, porque foram preguiçosas demais para darem um duro danado em si mesmas. As piores são as que acham que podem dar duro de vez em quando. Ou que já deram duro e agora podem se acomodar. Entenda: o processo de melhoria não deve acabar nunca. Acomodação é o maior inimigo do sucesso!!!

Por isso dizem que a viagem é mais importante que o destino. O que você é acaba sendo muito mais importante do que o que você tem. A pergunta importante não é "quanto vou ter?", mas sim "no que vou me transformar?" Não é "quanto vou ganhar?", mas sim "quanto vou aprender?". Pense bem e você notará que tudo o que tem é fruto direto da pessoa que você é hoje. Se você não tem o suficiente, ou se acha o mundo injusto, talvez esteja na hora de rever esses conceitos.

O porteiro do meu prédio me vem logo à mente. É porteiro desde que o conheço. Passa 8 horas por dia na sua sala, sentado atrás da mesa. Nunca o peguei lendo um livro. Está sempre assistindo à TV, ou reclamando do governo, do salário, do tempo. É um bom porteiro, mas em todos estes anos poderia ter se desenvolvido e hoje ser muito melhor do que é. Continua porteiro, sabendo (e fazendo) exatamente as mesmas coisas que sabia (e fazia) dez anos atrás. Aí reclama que o sindicato não negocia um reajuste maior todos os anos.

Nunca consegui fazê-lo entender que as pessoas não merecem ganhar mais só porque o tempo passou. Ou você aprende e melhora, ou merece continuar recebendo exatamente a mesma coisa. Produz mais? Vale mais, ganha mais. Produz a mesma coisa? Ganha a mesma coisa. É simples. Os rendimentos de uma pessoa raramente excedem seu desenvolvimento pessoal e profissional. Às vezes alguns têm um pouco mais de sorte, mas na média isso é muito raro.

É só ver o que acontece com os ganhadores da loteria, astros, atletas. Em poucos anos perdem tudo. Alguém certa vez comentou que se todo o dinheiro do mundo fosse repartido igualmente, em pouco tempo estaria de volta ao bolso de alguns poucos. Porque a verdade é que é difícil receber mais do que se é.

Como diz Jim Rohn, no que ele chama do grande axioma da vida: "Para ter mais amanhã, você precisa ser mais do que é hoje". Esse deveria ser o foco da sua atenção. Não são precisos saltos revolucionários, nem esforços tremendos repentinos. Melhore 1% todos os dias (o conceito de "kaizen"), em diversas áreas da sua vida, sem parar.

"Se você não mudar quem você é, você continuará tendo o que sempre teve".



segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Acordem os meninos, vocês que leram...

Pela primeira vez na história, a próxima geração terá menos oportunidades do que seus pais. Para começar, a crise ecológica dificultará a sobrevivência das gerações futuras. O aquecimento global fará a vida menos confortável, a desarticulação do clima levará à escassez de alimentos e água., os recursos naturais ficarão mais raros e o conforto, mais caro.

Além disso, será cada vez mais difícil conseguir empregos e bons salários.O avanço técnico, que trará muitas vantagens para a saúde de quem puder pagar pelo tratamento, vai, ao mesmo tempo, desempregar e exigir alta formação para os que terão empregos. Diante dessas dificuldades, os jovens de hoje têm algumas alternativas.

Alguns, como já acontece, vão cair na marginalidade e usar o crime como forma de compensar sua dificuldade. Seus pais vieram do campo, com pouca instrução e conseguiram emprego graças a cursos simples que permitiram emprego. Agora os empregos são raros e exigem boa formação.

Outros, especialmente de classe média ou média alta, procurarão emigrar para o exterior, como seus pais fizeram, no passado, ao sair do campo para a cidade. Raros serão bem sucedidos. A maior parte sobreviverá em melhores condições do que no Brasil, mas de forma marginal, com subempregos, mesmo remunerados em dólar. Os que ficarem terão bons empregos, mas sem o padrão de vida dos pais: casas e férias menores, mais bugigangas eletrônicas e muita incerteza.

Os poucos que tiverem oportunidade de bons estudos continuarão aqui e terão uma vida de alto padrão de consumo, participarão da economia global, viverão protegidos por sistemas de segurança e mandarão seus filhos, desde pequenos, estudarem em escolas particulares super protegidas ou no exterior.

Não são futuros desejados para nenhum dos grupos e, ainda menos, para o Brasil. Por isso, é preciso escolher outra alternativa: lutar politicamente para mudar essa tendência. Votar nos mesmos e viciados políticos e partidos não mudará o rumo do Brasil nem a vida dos jovens de hoje. Não dará a eles um futuro a quem têm direito. Tomar o poder por uma revolução que subverta toda a economia e a sociedade não é mais possível, não há modelo para se implantar depois, nem haverá força capaz de desmantelar o perverso sistema montado. E o resultado pode ser ainda pior. Nem os jovens vão querer a aventura do impossível, sem uma bandeira clara que os empolgue.

Mas há um objetivo tangível: exigir educação de qualidade para todos e construir a utopia possível neste momento – a garantia da mesma chance para todos. E fazer com que todas as escolas do Brasil tenham a mesma qualidade. A escola da favela, ou do campo, sejam equivalente à do condomínio da cidade.

Todos os professores bem remunerados, desde que dedicados, competentes e ensinando numa escola bonita e bem equipada, onde os jovens saiam do ensino médio preparados, com a mesma chance que os pais tiveram, no passado. Essa é a revolução possível.

Para isso, os jovens precisam se mobilizar dentro de suas escolas, nas ruas, via e-mail, por telefone, como seus pais fizeram pela democracia, por salários, pelo socialismo. Acordem, meninos, vocês precisam ganhar o direito à mesma chance. Precisam fazer uma revolução: educação já.

Estou ciente de que os meninos não querem acordar. Nem vão ler este artigo. Estão nas ruas, nos shoppings ou manipulados por partidos acomodados. Por isso, o título deste artigo deve ser: “Acordem os meninos, vocês que leram”. Antes que eles sejam soterrados nos escombros do futuro.

(Cristovam Buarque)

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Se eu tivesse um barco...

Durante anos, Rubem Braga publicava ao fim de suas crônicas na revista “Manchete” uma seção sob o título “A poesia é necessária”. Evidente que os poetas escolhidos eram os de sua preferência. Imitando o mestre, gostaria de transcrever um pequeno poema de Ribeiro Couto intitulado “Cais matutino”.

“Mercado do peixe, mercado da aurora:/ cantigas, apelos, pregões e risadas/ à proa dos barcos que chegam de fora./ Cordames e redes dormindo no fundo;/ à popa estendida, as velas molhadas;/ foi noite de chuva nos mares do mundo.”

“Pureza do largo, pureza da aurora./ Há viscos de sangue no solo da feira,/ se eu tivesse um barco, partiria agora./ O longe que aspiro no vento salgado/ tem gosto de um corpo que cintila e cheira/ para mim sozinho num mar ignorado.”

Com o fim da campanha eleitoral e a eleição da nova presidente da República, com a enxurrada de palpites, previsões, análises, comentários e notícias em geral, a melhor forma de reagir contra o tsunami da ocasião foi buscar um sítio mais elevado para melhor apreciar os acontecimentos.

Ao contrário do que muitos pensam, a poesia não é recurso de covardes e alienados. Nunca, jamais em tempo algum, cometi um verso, um poema. Não quer dizer que seja corajoso e antenado com a realidade atual. Mas frequentes vezes apelo para ela quando sinto que a poesia expressa um momento que estou vivendo. O “mar ignorado” do poema de Ribeiro Couto define o universo que me foi dado navegar sem ser preciso.

Tomei conhecimento do poeta quando li, na adolescência, um livro que muito me marcou: “Presença de santa Terezinha”. Tinha ilustrações de Portinari. Apesar de um pouco esquecido, considero Ribeiro Couto, diplomata e acadêmico, um dos maiores poetas de nosso modernismo.

Publicado em 02/11/2010


redacao@gazetadopovo.com.br (Carlos Heitor Cony)

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

SANTA CECILIA

22 de Novembro - Dia de Santa Cecília, Padroeira dos Músicos

No dia 22 de Novembro, comemora-se o Dia do Músico. É também o dia da padroeira dos músicos, Santa Cecília.

Segundo a Igreja Católica, Cecília era uma jovem e bela romana. Nascida no século II, foi prometida em casamento ao jovem Valeriano. No dia das núpcias confessou ao noivo que havia consagrado sua pureza a Jesus Cristo e que um anjo guardava sua virgindade.

Valeriano, que era ateu, disse que respeitaria sua vontade, desde que ele visse o tal anjo. Cecília então pediu que ele procurasse o bispo Urbano, para que fosse batizado e purificado. Seguindo as instruções da noiva, Valeriano tornou-se cristão e teve a visão do anjo. O casal passou então a professar junto a fé cristã, tendo convertido também Tibúrcio, irmão de Valeriano.

A todos que receberam este dom divino de cantar, compor ou tocar um instrumento, os parabéns do Portoweb e os votos de que sua música contribua para a construção de um mundo cada vez melhor. 

Oração do Músico

Deus, Todo-Poderoso, que nos destes a vida, os sons da natureza,

o dom do ritmo, do compasso e da afinação das notas musicais,

dai-me a graça de conseguir técnica aprimorada em meu instrumento,

a fim de que eu possa exteriorizar meus sentimentos através dos sons.


Permiti, Senhor, que os sons por mim emitidos

sejam capazes de acalmar nossos irmãos perturbados,

de curar os doentes e de animar os deprimidos;

que sejam brilhantes como as estrelas

e suaves como o veludo.

Permiti Senhor, que todo o ser que ouvir o som do meu instrumento

sinta-se bem e pressinta a Vossa Presença.

domingo, 28 de novembro de 2010

Todo mundo tem nostalgia....

Todo mundo tem nostalgia por um outro lugar. Todo mundo gostaria de se mudar para um outro lugar mágico. Mas são poucos os que têm coragem de tentar.
A vida é assim. Seria bom se as alternativas com que nos defrontamos fossem sempre entre o certo e o errado, o bom e o mau. Seria fácil viver. Mas há situações que nos colocam diante de alternativas igualmente dolorosas e de resultado incerto.(Rubem Alves).

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Vou-me embora pra Pasárgada...

Quando o assunto é política eu costumo dizer que eu acho o seguinte: Como quem acha não sabe nada, então não sei nada sobre essa matéria.
Diante da dúvida de quem eu vou votar, se é  Nesse ou Naquele.
Resolvi  pegar uma carona com o Poeta Manuel Bandeira e Vou-me embora prá Pasárgada, também.
Nem mesmo precisarei  justifcar o voto , pois lá sou amigo do amigo do Rei.

Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

(Manuel Bandeira)

sábado, 11 de setembro de 2010

O Jeito, no Momento, é ver a Banda passar...

O poeta maior Carlos Drummond de Andrade dedicou-lhe uma crônica, publicada no correio da manhã:

O jeito, no momento, é ver a banda passar, cantando coisas de amor. Pois de amor andamos todos precisados, em dose tal que nos alegre, nos reumanize, nos corrija, nos dê paciência e esperança, força, capacidade de entender, perdoar, ir para a frente. Amor que seja navio, casa, coisa cintilante, que nos vacine contra o feio, o errado, o triste, o mau, o absurdo e o mais que estamos vivendo ou presenciado.

Pedaços do caminho