sexta-feira, 30 de abril de 2010

Os Bares de Ontem


Ontem, em mais numa dessas noites frias da nossa Capital, resolvi ir beber uma original e comer um sanduíche com cheirinho verde ali no bar Zezito’s, no Água-Verde, antes de terminar de tomar o primeiro copo de cerveja vi encima do balcão um exemplar do jornal Cult Curitibano datado de março de 2010, do qual extrai essa pérola publicada na pág. 08, do periódico, (Os Bares de Ontem.)
“E ponha ontem nisso...Hoje, o que se vê é uma verdadeira invasão de bares e botecos em comparação à década de 70 e início dos anos 80.
Longe ficaram lembranças dos locais por onde andávamos, alguns excelentes, outros nem tanto, mas todos inesquecíveis. Mesmo os ruins eram bons, pois não tínhamos tantas opções quanto as opções dos dias de hoje.
Comecemos pela Confeitaria Cometa, que marcou época com o famoso sanduíche de pernil com verde, mesas de mármore branco, garçons profissionais e uma cerveja Antártica que fazia inveja aos melhores bebedores da época. Grandes prosas, grandes porres, grandes chás (também serviam torta de maça, à tarde, claro).
Bar Stuart, aquele antigo, marcou época com sorteios de carnes in natura, pernil gelado, peru fresco e mais um monte de atrações.
Você chegava em casa com um pernil debaixo do braço para lembrar somente no dia seguinte que havia ganho na rifa do Stuart. E a empadinha famosa, gostosa, apetitosa, vozes que se misturavam à alegria do convívio de amigos e conhecidos.
“Lá no Pasquale”, o bar do passeio público, que agitou os anos 80, mas existia muito antes disto. Até o prefeito Jaime Lerner freqüentava, daí a moda pegou mesmo. Um ponto que era obrigatório para ver e ser visto, tamanha a confusão de gente, gente de todo tipo e idade. Deliciosos petiscos e o chopp mais gelado e bem tirado daqueles tempos. Principalmente aos sábados.
Lanchonete Túnel, na Comendador. Não tanto um bar, mas sim um local de lanches e bebericos, que abrigava mesas e turmas em um retângulo onde muitos iniciaram a prática do álcool. Naquela idade, era ainda novidade.
Rainha Careca, no Batel. Pequeno, mas enorme para receber gente alegre, bonita, gente atrás de gente, mas sadia. Toquei muito piano naquele bar e sempre ao lado de amigos.
Meio-fio, ao lado da Divina Providência, embaixo de onde é a Fundação Cultural de Curitiba. O bar mais aconchegante daqueles tempos. O vinho era brilhantemente servido e o atendimento era impecável. E o piano de parede soou algumas vezes em companhia do meu amigo Eduy Ferro, nas madrugadas frias de Curitiba.
Cirandeiro, um dos melhores pontos da década de 70, onde o samba era tocado com maestria, a alegria imperava da porta de entrada até a hora da saída, a bebida era honesta com o preço e o povo se divertia.
Velha Adega, quando do meu amigo Tatára, excelente boteco para encontros e desencontros. Atendimento precário, mas ambiente de primeira, bebida gelada, gente bonita, mulheres e mais mulheres para colorir a noite. O perigo era aquela escada tanto na hora da chegada quanto na hora da saída. Ali, escapei de uma surra, graças ao amigo Aldo Malucelli. Coisas de cerveja demais.
Calabouço, o bar do Dino Almeida, no coração do Largo da Ordem. Ambiente de primeira linha, astral sensacional e só lá tinha a Norteña, uma cerveja uruguaia, novidade na época. Grandes noitadas. Eu e o Marco Basseti éramos “habitues” do local.
Nilo Samba e Choro, o primeiro, ali na Mateus Leme, atrás da Igreja da Ordem. Abençoado local, onde várias e várias madrugadas foram curtidas ao som do regional mais afinado de chorinho e MPB daqueles tempos. Atendimento simples, mas bebida sempre gelada, pizza no palito especial e música, muita música da boa, com rodízio de pessoal da madrugada todos os dias.
No Nilo, muitos textos foram escritos em guardanapos de papel, inclusive um em homenagem ao filho da Leninha, que ela guarda até hoje na carteira.
Janjill, na Praça Osório. O chopinho mais animado do final da tarde. Gente bonita, vista privilegiada, atendimento qualificado. Grande ambiente na sobreloja mais movimentada da Praça. Belo chopp e um monte de gente de fora de Curitiba que foi se adaptando por ali, inicialmente.
Sombrero, na Sete de Setembro, que existe até hoje, mas as melhores histórias ficaram mesmo em 1970 em diante. Astral legal, principalmente no verão, o Sombrero era conhecido pela maioria dos cachaceiros de antigamente. No bom sentido, claro.
O primeiro Kappelle, na Barão do Cerro Azul, onde Osvaldo e Mara atendiam a todos juntos com o John, o sócio estrangeiro da casa. Ali comia-se a melhor carne de onça de todos os tempos, com broa preta caseira e o chopp tirado com maestria.
Osvaldo deixou saudades. Bom bar, bom ponto, boa época. Nos encontrávamos ali quase todos os dias, melhor, as noites. Saía da faculdade e lá ia encontrar a raça.
Bar do Alemão, no Largo da Ordem, sobrevivente valente até os dias de hoje, mantendo astral e comida boa, atendimento impecável e gente bonita. Turistas somente nos finais de semana, mas gente boa de terça à quinta. Belo local. Boas comidas alemãs e astral muito bom.
Hummel Hummel, mais restaurante do que bar, mas mesmo assim, um excelente local para bater papo já a partir das seis e meia da tarde. Para jantar , o melhor Hering com nata do sul do Brasil.
Brasileirinho, onde a Soninha recebia amigos desde a cinco e meia da tarde e onde bebíamos de tudo um pouco, até amanhecer o dia. Astral e atendimento de primeira linha, bebida honesta, grandes histórias e grandes causos.
Sem dúvida, alguns bares aqui foram esquecidos devido ao espaço, mas desde que os bares existem, o astral vem atrás.
E hoje, centenas de bares nos rodeiam, atraindo públicos diferentes, pessoas jovens e mais velhas, misturando tudo numa alegria única de noite de Curitiba, que não deve mais nada para São Paulo ou Rio.
Mesmo agora, sem poder fumar, vamos ver que nada diminuirá a vontade do curitibano de sair de casa. Ainda bem.”

O Pescador

Pedaços do caminho