segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Eu sou...

Eu sou os brinquedos que brinquei, as gírias que usei e uso, eu sou os nervos a flor da pele no vestibular, os segredos que guardo, eu sou as minhas praias preferidas, eu sou o renascido depois do acidente que escapei, aquele amor atordoado que vivi, a conversa séria que tive um dia com meu pai, eu sou aquilo que eu lembro.

Eu sou a saudade que sinto da minha mãe, a infância que eu recordo, a dor de não ter dado certo, de não ter falado na hora, a emoção de um trecho de livro, a cena de rua que me arrancou lágrimas, eu sou o que eu choro.

Eu sou o abraço inesperado, a força dada para o amigo que precisa, eu sou o pêlo do braço que eriça, a sensibilidade que grita, o carinho que permuta, eu sou as palavras ditas para ajudar, os gritos destrancados na garganta, os pedaços que junta, a gargalhada, o beijo, eu sou o que você desnuda.

Eu sou a raiva de não ter alcançado, a impotência de não conseguir mudar, eu sou o desprezo pelo o que os outros mentem, o desapontamento com o governo, o ódio que tudo isso dá, eu sou aquele que torce pelo Vasco, que cansado não desiste, eu sou aquele que aprecia um, dois...chopes com saideira no botequim, eu sou aquele que curte uma boa música (Chico Buarque), eu sou a indignação com o lixo jogado do carro, a ardência da revolta, eu sou aquilo que eu queimo.

Eu sou aquilo que reivindica, o que consigo gerar através da verdade e da luta, os direitos e deveres que tenho, eu sou a estrada por onde corre atrás, serpenteia, atalha, busca, eu sou aquilo que eu pleiteio.

Eu não sou só o que como, bebo e visto. Eu sou o que você requer, recruta, rabisca, traga, goza e lê. Eu sou o que ninguém vê.

Eu sou, é uma adaptação da inteligente crônica Você é, da escritora Martha Medeiros (do livro Non-Stop ,Crônicas do Cotidiano)

sábado, 5 de setembro de 2009

Dicas...

A coisa mais importante para se fazer nesse domingo: ver os ipês floridos! Mas, por favor: não olhe para eles de dentro do carro. Saia. Fique debaixo deles e olhe para cima. Se o céu estiver azul você verá aquelas bolas de flores rosa contra o azul do céu. Você já ensinou seu filho a ver? Pois trate de ensinar. Mostre a árvore de longe. Mostre de perto. Mostre uma flor. Explique a sua simetria: pentagonal...Olhando para as flores se aprende matemática, se aprende pensar abstratamente...A propósito esse poema de Emily Dickinson(1830-86)"Alguns guardam o domingo indo a Igreja -/Eu o guardo ficando em casa-/Tendo um sabiá como cantor-/E um pomar por Santuário./-Alguns guardam o Domingo em vestes brancas-/Mas eu só uso as minhas asas-/E ao invés do repicar dos sinos da Igreja-/nosso pássaro canta na palmeira./-É Deus que está pregando, pregador admirável-/E o seu sermão é sempre curto./Assim, ao invés de chegar ao céu, só no final-/eu o encontro o tempo todo no quintal."

do livro Crônicas: educação / Rubem Alves; Samuel Lago

Pedaços do caminho