domingo, 28 de junho de 2009

Queira Deus...



Não é aos homens que me dirijo; é a Ti, Deus de todos os seres, de todos os mundos e de todos os tempos: se é permitido a frágeis criaturas perdidas na imensidão, e imperceptíveis ao resto do universo, ousar pedir-Te algo, a Ti que tudo concedeste, a Ti, cujos decretos são imutáveis e eternos, digna-Te a ver com piedade os erros de nossa natureza; que esses erros não nos tragam calamidades. Tu não nos deste um coração para nos odiarmos, nem mãos para nos degolarmos; faz que nos ajudemos mutuamente a suportar o fardo de uma vida penosa e passageira; que as pequenas diferenças entre as vestes que cobrem nossos débeis corpos, entre todas as nossas linguagens insuficientes, entre todos os nossos hábitos ridículos, entre todas as nossas leis imperfeitas, entre todas as nossas opiniões insensatas, entre todas as nossas condições tão desproporcionadas a nossos olhos, e tão iguais perante Ti; que todas esses pequenos nuangas que distinguem os átomos chamados HOMENS não sejam sinais! de ódio e de persecução; que aqueles que acendem círios em pleno meio-dia para celebrar-Te suportem aqueles que se contentam com a luz de Teu sol; que aqueles que cobrem as vestes com um véu branco para dizer que é preciso amar-Te não detestem aqueles que dizem a mesma coisa sob um manto de lã negra; que seja igual adorar-Te em um jargão formado de um antiga língua, ou em um jargão mais novo; que aqueles cujo habito é tingido de vermelho ou de violeta, que dominam sobre uma pequena parcela de um montículo do barro deste mundo e que possuam alguns fragmentos arredondados de um certo metal desfrutem sem orgulho do que eles chamam de GRANDEZA E RIQUEZA, e que os outros os contemplem sem inveja: pois Tu sabes que não há nessas futilidades nada a se cobiçar, nem do que se orgulhar.
Possam todos os homens lembrar-se de que são irmãos! que tenham horror da tirania exercida sobre as almas, como exerçam a extorsão que arranca pela força o fruto do trabalho e da indústria pacifica! Se os flagelos da guerra são incentiváveis, não nos odiemos, não nos destrocemos uns aos outros no seio da paz, e utilizemos o instante de nossa existência para bendizer igualmente em mil línguas diversas, do Sião à Califórnia, Tua bondade que nos concede este instante.


(Tratado da "Tolerância" - Voltaire - 1763)

sábado, 27 de junho de 2009

Oração...

" Stellinha , me tire desse quarto de hotel e de todas as coisas que entram pela janela; me leve para longe das palmeiras, mais longe e perto das coisas mais macias; me faça esquecer (depressa) os homens ruins — isto é: os que gostam de cebola crua; me ensine,

Stellinha, tudo o que eu não aprendi: a cortar com a mão esquerda, a usar anel, a tocar piano, a desenhar uma árvore e valsar; e me lembre do que eu esqueci — raiz quadrada, (as mais ordinárias), frações, latim, geofísica e "Navio Negreiro", de Castro Alves; depois, me dê, pelo bem dos seus filhinhos, aquilo que eu não tenho há quase um ano, carinho — de um jeito que eu não sei dizer como é, mas que há, por aí ou, pelo menos, já houve; destelhe a casa, deixe a noite entrar e, juntos, vamos nos resfriar; espirre de lá, que eu espirro de cá...... minhas mãos e as suas não são de ninguém, entendido?; se interesse por mim e pergunte o que eu sei, que eu quero exclamar, no mais puro francês: "oh!"..."comment allez vous"? (...) de um jeito ou de outro, me tire daqui, pra Pérsia, Sibéria, pro Clube da Chave, pra Marte, Inglaterra, sem couvert, sem couvert; está vendo o retrato dos meus 20 anos? de lá para cá, cansaço, pé chato, gordura, calvície fizeram de mim essa coisa ansiosa, insegura e com sono, que pede a você, no auge do manso: você, Stellinha, não saia esta noite e fique, ao meu lado, esperando que o sono me tome e me mate, me salve e me leve, por amor ao teu andar, assim seja..."

Da crônica "Oração", escrita em 30-03-1954, por, Antônio Maria.

domingo, 21 de junho de 2009

Lembra de mim...

Composição: Vitor Martins / Ivan Lins

Lembra de mim!
Dos beijos que escrevi
Nos muros a giz
Os mais bonitos
Continuam por lá
Documentando
Que alguém foi feliz...

Lembra de mim!
Nós dois nas ruas
Provocando os casais
Amando mais
Do que o amor é capaz
Perto daqui
Há tempos atrás...

Lembra de mim!
A gente sempre
Se casava ao luar
Depois jogava
Os nossos corpos no mar
Tão naufragados
E exaustos de amar...

Lembra de mim!
Se existe um pouco
De prazer em sofrer
Querer te ver
Talvez eu fosse capaz
Perto daqui
Ou tarde demais...

Lembra de mim!...

Lembra de mim!
A gente sempre
Se casava ao luar
Depois jogava
Os nossos corpos no mar
Tão naufragados
E exaustos de amar...

Lembra de mim!
Se existe um pouco
De prazer em sofrer
Querer te ver
Talvez eu fosse capaz
Perto daqui
Ou tarde demais...

Lembra de mim!...

Conviver é viver bem

Li, numa cartilha de curso primário, a seguinte estória:
Viviam juntos o pai, a mãe, um filho de cinco anos e o avô, velhinho, vista curta, mãos trêmulas. Às refeições, por causa de suas mãos fracas e trêmulas, ele começou a deixar cair peças de porcelana em que a comida era servida. A mãe ficou muito aborrecida com isso, porque ela gostava muito do seu jogo de porcelana. Assim, discretamente, disse ao marido “Seu pai não está mais em condições de usar pratos de porcelana. Veja quantos ele já quebrou! Isso precisa parar....” O marido, triste com a condição do seu pai, mas, ao mesmo tempo, sem desejar contrariar a mulher, resolveu tomar uma providência que resolveria a situação. Foi a uma feira de artesanatos e comprou uma gamela de madeira e talheres de bambu para substituir a porcelana. Na primeira refeição em que o Avô comeu na gamela de madeira com o garfo e colher de bambu, o netinho estranhou. O pai explicou, e o menino se calou. A partir desse dia, ele começou a manifestar um interesse por artesanato que não tinha antes. Passava o dia tentando fazer um buraco no meio de uma peça de madeira com um martelo e um formão. O pai, entusiasmado com a revelação da vocação artística do filho, lhe perguntou: “o que é que você está fazendo, filhinho?” o menino, sem tirar os olhos da madeira, respondeu: “Estou fazendo uma gamela para quando você ficar velho...”

A vida é convivência com uma fantástica variedade de seres, seres humanos, velhos, adultos, crianças, das mais variadas culturas, línguas, animais plantas, estrelas..........Conviver é viver bem em meio a essa diversidade.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Ainda..

“não digamos não, nem nunca mais, não digamos sempre ou jamais”, digamos, simplesmente “ainda”

Ainda nos veremos um dia....

Ainda nos encontraremos na estrada da vida....

Ainda encontraremos a pousada,

O afeto almejado, a guarida....

Ainda haverá tempo de Amar, sem medo, totalmente, infinitamente sem ter medo de pedir, de implorar, ou chorar.

Ainda haverá tempo para ser feliz novamente

Ainda haverá tristeza

Ainda haverá saudade

Ainda haverá primavera,

O sonho, a quimera

Ainda haverá alegria, apesar das cicatrizes

Ainda haverá esperança,

Porque a Vida ainda é criança

E amanhã será outro dia!!!!!.......


quarta-feira, 17 de junho de 2009

Certa vez...

"Certa vez, Khidr, o professor de Moisés, fez um alerta à humanidade. Numa determinada data, todas as águas do mundo, menos as especialmente reservadas, desapareceriam. Em seguida seriam substituídas por uma água diferente que deixaria os homens loucos. Apenas um homem entendeu o significado desse aviso e guardou uma certa quantidade de água num lugar seguro, esperando acontecer a mudança. Na data indicada os rios deixaram de correr, os poços secaram e o homem que tinha entendido, vendo tudo acontecer, foi para seu esconderijo e bebeu da água reservada. Quando viu, do seu posto seguro, que as cachoeiras estavam novamente correndo, ele voltou ao convívio dos outros filhos dos homens, observando que eles agora pensavam e falavam totalmente diferente mas não se lembravam do que tinha acontecido, nem de terem sido avisados. Quando tentou falar com eles, percebeu que o julgavam louco, e se mostravam hostis ou compadecidos, mas não o compreendiam. No início ele não bebia da nova água, voltando ao seu esconderijo todos os dias para se abastecer nas suas reservas. Finalmente, não suportando mais a solidão em que sua vida tinha se transformado, porque ele se comportava e pensava diferente de todo mundo, resolveu beber da nova água. Bebeu e se tornou um deles. Depois não lembrou mais da sua reserva de água especial e passou a ser visto como o louco que havia milagrosamente recuperado a razão".

terça-feira, 16 de junho de 2009

O argumento da aposta em Deus...

É conhecido o argumento da aposta em Deus, do filósofo e matemático Blaise Pascal (1632-1662), exposto em seu magistral "Pensées" (Pensamentos). Pascal nos convida a considerar as vantagens e desvantagens de acreditar no Deus revelado do cristianismo. Vamos supor que eu não creia e leve uma vida concupiscente, sempre em busca do maior número possível de prazeres físicos. Se a religião é falsa e eu vivi como um devasso, tudo bem --gozei meus prazeres. Por outro lado, se ela for verdadeira, terei problemas, pois estarei condenado à danação. Na outra hipótese, eu aposto que a religião é verdadeira e levo uma vida regrada, segundo os bons preceitos cristãos. Se a religião for falsa, terei renunciado a uma vida com mais prazeres carnais, mas, se ela for verdadeira, terei ganhado a salvação eterna, um prêmio em muito superior aos prazeres passageiros. Assim, conclui Pascal, é de nosso interesse agir como se a religião cristã fosse verdadeira.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Receita de Viver

Uma boa gargalhada, a sós, no momento de se erguer da cama.
Quanta bobagem tenho feito neste mundo! A serenidade imperturbável conduz ao fanatismo e este dá câncer.
Nunca ferir uma mulher a ponto de fazer-se odiado por ela.
Estar sempre em condições morais de perder tudo e começar tudo outra vez.
Amar apenas uma mulher de cada vez.
Dizer sempre a verdade, seja qual for e doa a quem doer.
Conhecer um por um os nossos defeitos curar-se dos que não são naturais e cultivar aqueles que mais nos agradam.
Evitar o máximo paletó e a gravata.
Os chatos que falam no ouvido.
As mulheres que resolvem tudo por telefone.
Os bêbados que mudam de personalidade quando lúcidos.
Os vizinhos prestativos.
E todo papo do qual participem mais de três pessoas.
Longa caminhada solitária pelo menos uma vez por semana.
Não discutir preço – é melhor ir embora sem comprar.
Não guardar ódio a ninguém.
Dormir 08 horas e acordando, continuar na cama enquanto puder.
Recusar-se a beber uísque que não seja escocês legítimo, preferindo a cachaça como alternativa.
Ser condescendente com o comportamento sexual dos outros.
Tentar compreender cada pessoa, evitando julgá-la.
Saber exatamente o momento de deixar os amigos a sós.
Treinar como quem faz ginástica, para ser sinceramente modesto.

Viver tão intensamente que possa dizer a morte, quando vier já veio tarde.

Fonte: O homem na varanda do Antonio’s – Crônicas da boemia carioca nos agitados anos 60 e 70.

domingo, 14 de junho de 2009

Um pouco de mim...

Creio que, dentro de todos, mora, adormecida a nostalagia pela beleza. (Rubem Alves)

"Sou apenas um caminhante
Que perdeu o medo de se perder
Estou seguro que sou imperfeito
Podem me chamar de louco
Podem zombar das minhas idéias
Não importa!
O que importa é que sou um caminhante
Que vende sonho para os passantes
Não tenho bússola nem agenda
Não tenho nada, mas tenho tudo
Sou apenas um caminhante
À procura de mim mesmo." (do Livro o Vendedor de Sonhos, Augusto Cury)

Sou a soma das minhas decisões.
A minha Vida é uma sucessão de acasos Felizes, vivo de pequenos desejos, grandes decisões, de encontros, paixões e um verdadeiro e incondicional Amor...

Não tenho dinheiro, possuo um pouco de crédito e uma certa (diria) criatividade no momento de consumir, aprendi à um certo custo, confesso, que para as coisas mais valiosas da vida não há necessidade de dinheiro.

Não são raras as vezes que para suportar a loucura do cotidiano tomo algumas doses extras de tenência; " É pois de saber que este fidalgo, nos intervalos que tem de ócio (que eram os mais do ano), se dava a lêr livros de cavalaria, com tanta afeição e gosto, que se esqueçeu quase de todo exercicio da caça, e até da administração dos seus bens, e a tanto chegou a sua curiosidade e desatino neste ponto, que vendeu muitos trechos de terra de semeadura para comprar livros de cavalarias que ler com o que juntou em casa quantos pôde apanhar daquele gênero..." (Dom Quixote, Cervantes)

Considero-me um tanto frustrado, porque não sou o santo como a minha mãe quer , e também como eu gostaria de ser.

Da vida carrego algumas certezas, os impostos, a morte, os amigos, e o amor.

Quanto aos impostos, me arrancam tudo, zombam de mim e ainda me chamam de contribuinte.

Sobre a morte, não tenho pressa que ela venha, mais quando vier, espero que eu possa dizer, veio tarde, demorou.... e o que restou de mim não sou eu, fui consumido durante a minha Vida.
"Nesse dia, não quero que digam: Eis que nesse túmulo repousa um homem rico, famoso e poderoso, cujos feitos estão nos anais da história. E nem que digam: Eis que jaz nele um homem ético e justo. Pois essa é mera obrigação. Mas espero que digam: Eis que nesse túmulo repousa um simples caminhante que entendeu um pouco o que é ser um ser humano, que aprendeu um pouco a ser apaixonado pela humanidade e conseguiu um pouco vender sonhos para outros passantes...."
e ainda... "quando eu for não quero ir com raiva, insatisfação, apego ou arrependimento. Eu quero ir como um pássaro que levanta vôo do topo de uma montanha. Quero ir como um espírito livre." (Lama Guelek Rinpoche)
Aprendi com a psicóloga Bel César, que a morte é um despertador que quer nos acordar para o significado da vida a todo momento.

Dos amigos, dou e quero lealdade. Os motivos que podem gerar lealdade: Culpa em relação a alguém, etapas comuns de desenvolvimento; sofrimento partilhado; alegria partilhada; solidariedade dos mortais; comunhão de opiniões; luta conjunta contra o exterior; forças e fraquezas comuns; necessidade mútua de proximidade; semelhança de gostos; ódio comum; segredos partilhados; fantasias e sonhos partilhados; entusiasmo partilhado; humor partilhado; heróis partilhados; decisões tomadas em comum; êxitos, insucessos, vitórias e derrotas comuns; decepções partilhadas; erros comuns."

E quanto ao amor, sinto que é verdadeiro e incondicional a stellinha....

das outras quase certezas, é que poderei viver alguns (muitos) anos, quem sabe uma das vidas, junto há uma pessoa, mas só vou conhecê-lá verdadeiramente, quando optar pela minha liberdade...

(Ildebrando Carvalho Ronsani)

Pedaços do caminho