quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Era uma vez...

Nessa minha vida boemia, freqüentei alguns bares que só de lembrar que estive lá numa noite, fico ainda apavorado. Como diz um amigo, sópordeus.
Mas como na vida de um boêmio nem tudo é desperdício, a pouco tempo atrás nessa divertida e atabalhoada caminhada, conheci o poeta Fabiano, para muitos ainda um desconhecido, prá mim já é realidade, ele me conta que, quando não está lendo Dostoevski, escreve, é dele essa pérola abaixo:

Era uma vez um poeta
Que não possuía beleza
E que através da sua caneta
Tentou conquistar a princesa
Furou os olhos da coitada
Não é lenda
Não é mito
Hoje ela não enxerga nada
E ele é o seu príncipe bonito

(Fabiano Jacob Barcellos)

domingo, 10 de janeiro de 2010

Vivendo e desaprendendo

Eu sabia fazer pandorga (pipa) e hoje não sei mais, duvido que se hoje pegasse uma bola de gude conseguisse equilibrá-la na dobra do dedo indicador sobre a unha do polegar, quanto mais jogá-la com a precisão que tinha quando era garoto. Outra coisa: Acabo de procurar no dicionário, pela primeira vez o significado da palavra “gude”. Quando eu era garoto nunca pensei nisso, eu sabia que gude era gude. Gude era gude.

Juntando-se duas mãos de um determinado jeito com os polegares para dentro, e assoprando pelo buraquinho, tirava-se um silvo bonito que inclusive, variava de tom conforme o posicionamento das mãos. Hoje não sei mais como é. Eu sabia a fórmula de fazer cola caseira. Algo envolvendo farinha e água e muita confusão na cozinha, de onde éramos expulsos sobre ameaças. Hoje não sei mais.

A gente começa a contar depois de ver um relâmpago e o número a que chegasse quando ouvia a trovoada, multiplicando por outro número, dava a distância exata do relâmpago. Não sei mais que número é esse.

Ainda no terreno dos sons: tinha uma folha que a gente dobrava e, se ela rachasse de um certo jeito, dava um razoável pistom em miniatura. Nunca mais encontrei a tal folha.

E espremendo-se a mão entre o braço e o corpo, claro tinha-se o chamado trombone axilar, que muito perturbava os mais velhos; não consigo mais tirar o mesmo som. É verdade que não tenho tentado com muito empenho.

Lembro o orgulho com o que consegui, pela primeira vez cuspir corretamente pelo espaço adequado entre os dentes de cima e a ponta da língua de modo que o cuspe ganhasse distância e pudesse ser mirado com prática, conseguia controlar a trajetória elíptica da cusparada com uma mínima margem de erro. Era puro instinto. Hoje o mesmo feito requeria complicados cálculos de balística e eu provável só acertaria a frente da minha camisa. Outra habilidade perdida.

Na verdade deve-se revisar aquela antiga frase, é vivendo e desaprendendo, não falo daquelas coisas que deixamos de fazer porque não temos mais condições físicas e a coragem de antigamente, como subir em bonde andando, mesmo porque não existem mais bondes. Falo da sabedoria desperdiçada das artes que nos abandonaram, algumas até úteis.

Quem nunca desejou ainda ter o cuspe certeiro de garoto para acertar em algum alvo contemporâneo, bem no olho? Eu já.

(Luis Fernando Veríssimo)

Pessoas são músicas você já percebeu?


Elas entram na vida da gente e deixam sinais.

Como a sonoridade do vento no final da tarde.

Como os ataques de guitarras e metais presentes em cada clarão da manhã.

Olhe a pessoa que está ao seu lado e você vai descobrir, olhando fundo, que há uma melodia brilhando no disco do olhar. Procure escutar.

Pessoas foram compostas para serem ouvidas, sentidas, compreendidas, interpretadas.

Para tocarem nossas vidas com a mesma força do instante em que foram criadas, para tocarem as suas próprias vidas com toda essa magia de serem músicas.

E de poderem alçar todos os vôos, de poderem voar com todas as notas, de poderem cumprir afinal, todo o sentido que a elas foi dado pelo compositor.

Pessoas são músicas como você. Está ouvindo?

Pessoas têm que fazer sucesso.

Mesmo que não estejam nas paradas.

Mesmo que não toquem no rádio.

(autor desconhecido)

Pedaços do caminho