sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Para onde vão nossas memórias ?

Quando se aproximam as celebrações de final de ano, bate em mim certa nostalgia, com um misto de saudade, que, pelo menos para mim, soa como algo bom, mas que remexe em nossos baús interiores de forma muito intensa. Essa sensação bate forte, como que dizendo: e agora, para onde irão as nossas memórias? Se for olhar para a sociedade atual, veremos que o tempo está cada vez mais precioso. Precioso? Sim. Mas ao mesmo tempo está se distorcendo os valores com relação a esse mesmo tempo. Estamos tão focados no “ter, que o “ser”, está se perdendo... Ao mesmo tempo em que voamos em segundos de um ponto ao outro do globo, estamos cada vez mais distantes de nós, e muitas vezes, daqueles que amamos. Falo isso, por lembrar com saudade, da época em que se dedicava tempo para escrever uma carta, seja para um amigo, parente ou mesmo para um amor distante. Essa dedicação era prazerosa para quem escrevia, assim como, para quem a recebia. Porque ao mesmo tempo em que se viajava nas memórias, compartilhando-as, sentíamos como se em cada palavra escrita, um pedacinho de nós estava junto. Era a nossa alma sendo discorrida em versos, não versos de poeta, mas versos trazidos de nossas memórias.
Hoje, trocamos correios eletrônicos, com uma velocidade ímpar. Mas essa mesma velocidade, onde come-se palavras, para ganhar tempo, cria ilhas em lugares habitados por pessoas. Essa mesma velocidade acaba por se tornar algo intoxicante que vai aos poucos nos tornando solitários de nós mesmos. Troca-se correios com o colega ao lado. Os olhares, os toques, os sorrisos e as palavras ditas com o coração, estão se tornando atitudes raras. Muito raras. Não olhamos mais para quem está ao nosso lado. Temos medo de olhar, de sorrir ao dar um bom dia, porque temos pouco tempo, estamos atrasados, não tenho tempo, depois eu ligo, depois eu escrevo, depois, depois, depois... e as nossas memórias vão ficando como em um vácuo, sem terem para onde ir... Ernesto Sabato (nascido em 24 de junho de 1911) é um escritor argentino que retrata muito bem nessas palavras: "O Homem não pode manter-se humano a esta velocidade, se viver como um autômato será aniquilado. A serenidade, uma certa lentidão, e tão inseparável da Vida do Homem como a sucesso das estações e inseparável das plantas, ou o nascimento das crianças. Estamos no caminho, mas não a caminhar (...) talvez a aceleração tenha chegado ao coração que já lateja num compasso de urgência para que tudo passe rapidamente e não permaneça. Este destino comum é a grande oportunidade, mas quem se atreve a saltar para fora? Já nem sequer sabemos rezar porque perdemos o silencio e também o grito."
Ah! Nossas memórias, tão belas, mesmo as mais tristes, foram elas que nos fizeram crescer, alimentar sonhos, amar, chorar, alimentar esperanças. Era assim, que eu via o carteiro, figura tão importante na época de minha adolescência e juventude... Onde se contava os dias, as horas para que ele chegasse com uma carta na mão, e você via seu nome escrito ali como uma declaração de amor por você. Por isso, minha gratidão eterna a esse profissional, que leva e trás sonhos a tantas pessoas, mas que em muitos momentos nos dias atuais, passa despercebido... é só mais um na multidão. Mas não o será se o olharmos como um mensageiro. Aquele que trás notícias de longe de quem você há muito tempo não vê.
Dedico essa minha cartinha a todas as pessoas, que, assim como eu, ainda conservam essa doce nostalgia, e que ainda tiram um tempo precioso, para pegar a caneta na mão e começar a tecer os fios de histórias das memórias que não querem ficar no vácuo, mas sim, nas mãos e coração de alguém que mora distante.
Que nesse encerrar ciclo, você, que tirou um tempo precioso para percorrer o caminho de minhas palavras, possa relembrar, rememorar doces lembranças e trazer para esse novo tempo a figura do nosso querido mensageiro das memórias. E, sorrindo lhe dizer: Obrigado por ser meu mensageiro! Obrigado, Senhor Carteiro.
FELIZES CELEBRAÇÕES DE FINAL DE ANO!
FELIZES MEMÓRIAS PARA TODOS VOCÊS!

Abraços com muito carinho
Stella Marcia Petrazzini
Psicóloga

Pedaços do caminho