terça-feira, 25 de maio de 2010

Creio

 Guilherme de A. e Almeida*
Para que ninguém me julgue, como eu me julgo, um cético...do grego "skeptikós", que significava aquele que costuma examinar e refletir, e que, paradoxalmente, passou a significar aquele que de tudo duvida...resolvi revelar o meu "Credo" íntimo, que é o seguinte: 
CREIO

Creio em mim mesmo, só pelo gosto de contrariar um pouco os meus credores;

Creio no meu sense of humour, sem o qual eu jamais seria capaz de me ver de cuecas ao espelho e, principalmente, de votar em eleições;

Creio nos meus inimigos íntimos, fatores máximos de minha popularidade; e nos meus amigos figadais, fatores mínimos das minhas indiscrições;

Creio na imortalidade (apesar da tenaz negativa sustentada pelas Academias) da alma;

Creio no meu coração de ouro, o qual, entretanto, nunca conseguiu uma avaliação decente no guichê do Monte Socorro;

Creio no meu bom e fiel uísque escocês, que justifica, até certo ponto, a existência do meu fígado, do meu médico e do meu fornecedor;

Creio no Bem e no Mal, na Verdade e na Mentira, no Belo e no Feio, no Triste e no Alegre, enfim, em todos os antônimos, porque acredito no meu alfaiate e no direito e avesso das lãs que ele corta e cose;

Creio nos meus sonhos, que já têm feito muita gente boa acertar no "bicho" e nem sequer me dizer "Muito Obrigado!";

Creio na minha perfeita insensatez, que os homens sensatos tentam em vão arremedar;

Creio no meu indiscutível bom-gosto: única virtude que reconhecem em mim algumas mulheres que admiro;

E creio, afinal, inabalavelmente creio neste meu incrível cinismo de acreditar ainda em alguma coisa neste mundo destes tempos entre estes homens. 29-11-1960.

*Guilherme de Andrade e Almeida  nasceu no dia 24 de julho de 1890 na cidade de Campinas - SP.
Faleceu na cidade de São Paulo, no dia 11 de julho de 1969.
Acadêmico em 1930 e em 1959 é eleito  "O Príncipe dos Poetas Brasileiros".

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As mudanças são necessárias, claro, mas não se pode deixar de sentir um pouco de nostalgia - Afinal, ela é parte de nossa história. Sem essas lembranças é como se não existisse passado...

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